quinta-feira, 19 de maio de 2011

Afinal, o que é MODA? (Parte 1?)

Espelho da cidade - Jorge Marques



"A espiral é um círculo espiritualizado. Na forma helicoidal, o círculo desdobrado, desenrolado, já não é mais vicioso: passou a ser livre.
A espira sucede à espira, e toda síntese é a tese da que se segue. Vladimir Nabokov (Autre rivage)."
Vincent – Ricard, Françoise. As espirais da moda.

Essa foi a missão dada a três estudantes de Design (com ênfase em moda), diga-se de passagem, prestes a se formar: Definir MODA em uma imagem, ou em um slide através de imagens.
Daí surgem os questionamentos: Moda? A partir de que área do conhecimento definí-la? Se existem várias definições, então não há uma verdade digamos "absoluta". O que levar em consideração, para definí-la de forma mais abrangente possível? E claro, para quem será apresentada essa definição (conhecimento de praxe para quem é designer, ou que está a caminho de ser: atender a necessidade do público-alvo, do usuário, do cliente, ou ainda do espectador.)

Vamos então a teoria! (Vasta teoria!). (E qual a se seguir?)

De um livro, julgado talvez como bobo, por fazer parte de uma coleção de primeiros passos, digamos assim, saem conceitos interessantes: (Sublinhados, negritos e escritos em vermelho são de minha autoria.)

Palomino, Erika. A moda. Folha de São Paulo

"O que é a moda, afinal?

A moda é um sistema que acompanha o vestuário e o tempo, que integra o simples uso das roupas no dia-a-dia a um contexto maior, político, social, sociológico. [...]

Você enxergará melhor a moda se conseguir visualizar uma evolução. Pense no jeito que as pessoas se vestiam nos anos 70 e depois nos anos 80 e tente, ainda, achar um denominador para o que as pessoas usavam na década de 90. Essas mudanças é que são a moda. Ao acompanhar/retratar/simbolizar essas transformações, a moda serve como reflexo das sociedades à volta (impossível não imaginar a imagem de um espelho refletindo uma cidade, por exemplo). É possível entender um grupo, um país, o mundo naquele período pela moda então praticada.

Sabemos que uma moda pode regular formas de vestir, de pentear-se etc. A palavra “moda” vem do latim “modus”, significando “modo”, “maneira”. Em inglês, moda é “fashion”, corruptela da palavra francesa “façon”, que também quer dizer “modo”, “maneira”.

Hoje em dia, talvez estejamos acostumados a sistema que opera a moda num âmbito de desfiles, modismos, tendências. Mas nem sempre foi assim. E, ao contrário do que talvez possamos pensar em nosso mundo globalizado, a moda não é algo universal[1]. Os povos primitivos, por exemplo, desconhecem o conceito – apesar de muitas vezes acharmos muito bonitos os vestidos de uma ou outra tribo africana, por exemplo. Tampouco a moda é algo que existe há muito tempo: no Egito antigo, por exemplo, nada no vestuário mudou num período de 3 mil anos (ou seja, será que a moda só existe pela flexibilidade das camadas sociais? As classes sociais no antigo Egito eram rígidas, não se alteravam).

O conceito de moda apareceu no final da Idade Média (século 15) e principio da Renascença, na corte de Borgonha (atualmente parte da França), com o desenvolvimento das cidades e a organização da vida das cortes. A aproximação das pessoas na área urbana levou ao desejo de imitar: enriquecidos pelo comércio, os burgueses passaram a copiar as roupas dos nobres. Ao tentarem variar suas roupas para diferenciar-se dos burgueses, os nobres fizeram funcionar a engrenagem – os novos burgueses copiavam, os nobres inventavam algo novo, e assim por diante. Desde seu aparecimento, a moda trazia em si seu caráter estratificador.

[...] não existia sombra do conceito de estilista ou costureiro. Somente no final do século 18 uma pessoa seria responsável por mudanças “assinadas”, quando Rose Bertin ficou famosa por cuidar das toilettes da rainha Maria Antonieta (1755 – 93). [...]

Na sociedade democrática do século 19, aparecem necessidades mais complexas de distinção; [...] a moda passou também a expressar ideias e sentimentos.[2] [...]
[...] primeiro a moda reage contra si mesma (contra o look anterior) para depois respingar na vida real. Por exemplo: a moda andrógina substitui a romântica, mas em algum momento as duas coexistem nas ruas. [...] Mas nem toda moda está conctada com leituras políticas ou sociais – simplesmente porque as pessoas às vezes usam coisas sem motivos, conforme explica Hollander[3]. Daí o caráter volátil da moda. Ainda segundo Hollander, o significado social da moda está confinado ao fato de quem usa o que em determinado momento, e não porque usa. (entendo nesse trecho que o “porque” de se usar é um questionamento da psicologia. Por isso a moda não pode ser estudada/compreendida de uma só área do conhecimento).
[...] Mesmo na não-moda, na moda essencialmente prática, feita para finalidades básicas (como cobrir ou esquentar, por exemplo), escolhas são feitas. Você escolhe entre uma cor e outra num casaco, que pode ter um botão ou outro. E nessa escolha já está a moda, porque denota o gosto de quem escolheu aquele botão e o de quem compra a roupa. [...]
[...]Moda tem muito mais a ver com vida real do que as pessoas pensam. [...] o caráter da moda é de fato efêmero (ela muda oficialmente de seis em seis meses, e seu meio é a roupa) e porque ela tem a ver com a aparência (supostamente privilegiando o superficial em detrimento do intelectual: forma versus conteúdo).
Quem a critica dessa forma passa por cima das implicações sociológicas e mesmo psicológicas da moda – coisas simples como sentir-se bem ao usar determinada roupa, ou sentir-se poderoso ou vulnerável vestindo outra... Sem falar da expressão pessoal. [...]

[...] Para o pensador Gilles Lipovetsky, pensador que mapeou a fascinação da moda pelo novo, o grande período da moda foi de 1850 a 1970, quando ocorreram as grandes revoluções de estilo que marcaram a aparência ferminina moderna. Segundo Lipovetsky, a roupa foi emblemática de posição social por séculos, mas hoje deve ser essencialmente prática.[4] De acordo com essa tese, a atuação da moda vai encontrar mais eco como objeto de sedução. Esse pode mesmo ser um caminho.

Outro é o da tecnologia. Conforme disse numa palestra o presidente da DuPont, Steven R. McCracken, a moda, terminando esse período de mudanças formais, deverá trazer inovações de cunho tecnológico, como, por exemplo, os tecidos inteligentes.[5]"



[1] Ver Gilda de Mello e Souza, O espírito das roupas: a moda no século 19. São Paulo: Companhia das Letras, 1987.
[2] Idem, ibidem.
[3] Anne Hollander, O sexo e as roupas: a evolução do traje moderno. Rio de Janeiro: Rocco, 1966.
[4] Folha de São Paulo, caderno “Moda”, 25/8/2000.
[5] A palestra integrou seminário promovido pelo jornal International Herald Tribune, em Paris, nos dias 28 e 29 de novembro de 2000.


A imagem do início do post, me inspira o conceito de moda: "O espelho da cidade". Seria a moda o reflexo do comportamento humano adotado num grupo? 
Mais sobre o artista http://jmsmarkes.blogspot.com/

Até a próxima (Porque dessa vez, as morais da história ficam a cargo de vocês).

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